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O FOSSO DIGITAL

  • Foto do escritor: Alan Giovani de Moraes
    Alan Giovani de Moraes
  • 10 de set. de 2024
  • 5 min de leitura

"O fosso digital não é simplesmente sobre a ausência de conectividade, mas sobre a desigualdade no uso e na compreensão das tecnologias digitais. Ele reflete uma divisão profunda em oportunidades econômicas e de desenvolvimento social."


  • Fonte: World Economic Forum (WEF), The Global Digital Divide Report (2020).



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Em um lugar do mundo onde a tradição, a cultura e os costumes antigos ainda reinam. Em meio à uma natureza ainda intocada, um grupo se reúne. Os rostos estão atentos à uma mulher com força vital, mas, à medida que o discurso se prolonga, algo estranho acontece.


Os olhos dos ouvintes, que antes estavam fixos nela, começam a se desviar. Os adolescentes já sacaram os celulares, e tão automático, ficam imersos no Instagram. No canto, um cara, todo tranquilo, manda uma mensagem pra namorada, sem pressa, como se o tempo ali tivesse desacelerado. Enquanto isso, um grupinho de homens se aglomera em torno de um celular, acompanhando uma partida de futebol ao vivo, vibrando a cada lance do jogo.


A líder continua falando, com toda a autoridade, tentando manter o espírito da tribo vivo. Como em qualquer outro lugar, uma cena dessa seria banal. Mas, isso tá rolando em uma aldeia indígena remota, numa das áreas mais isoladas do planeta, que até pouco tempo, nem sabia o que era internet.


O povo Marubo sempre viveu daquele jeito que a gente só vê em documentário do Discovery Channel. Malocas comunitárias espalhadas por centenas de quilômetros ao longo do rio Ituí, nas profundezas da floresta amazônica.


Eles falam seu próprio idioma, tomam ayahuasca para se conectar com os espíritos da floresta e, olha essa, caçam e prendem macacos-aranha. - E o melhor: ou eles viram sopa ou se tornam animais de estimação na aldeia.


Essa vida resistiu por séculos. O segredo?


Isolamento total. Pra chegar até algumas dessas aldeias, só de canoa ou a pé, e olha que a viagem pode durar até uma semana fácil. Os caras conseguiram manter as tradições vivas assim: longe de tudo, longe de todos, intocados pelo tempo.


Mas aí, em 2022, boom! A virada do jogo. O que foi que chegou lá?


Internet de alta velocidade, direto da Starlink, a rede de satélites do Elon Musk.


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MALOCAS DIGITAIS


Imagina só: uma aldeia com 2.000 pessoas, no meio da maior floresta tropical do mundo, isolada de tudo. Esse lugar é só uma das centenas no Brasil que agora tão se conectando com o mundo através da Starlink, a internet via satélite da SpaceX. Desde que a Starlink chegou no Brasil em 2022, o negócio explodiu, se espalhando pela Amazônia e conectando os lugares mais remotos e inacessíveis do planeta. Lugares que, até então, nem imaginavam o que era ter uma barra de Wi-Fi cheia no celular.


Aí que entra o New York Times. Os caras fizeram uma viagem pesada, atravessando a Amazônia pra chegar na aldeia dos Marubo, pra entender o que rola quando uma comunidade pequena e fechada de repente se conecta com o mundo.


Eles chegaram lá pra ver como é que a tecnologia e a tradição tão se batendo de frente, lado a lado. A galera que vivia isolada por séculos, agora tá com acesso a tudo que o mundo moderno tem a oferecer... desde as tretas do X (antigo Twitter) até as últimas fofocas no Instagram. Quer entender o impacto disso? Imagina o choque.


"Quando a internet chegou, foi uma festa. Todo mundo ficou feliz", disse ela, com aquele olhar de quem já viu muita coisa. O lance de fazer vídeo chamada com parentes distantes, pedir ajuda urgente com um simples clique... Tudo isso transformou a vida na aldeia, trouxe benefícios claros. Mas por outro lado, ela reflete:


-  "Agora, as coisas pioraram".


Disse Tsainama Marubo, 73 anos, sentada no chão de terra da maloca de sua aldeia, uma cabana de 15 metros de altura onde os Marubo dormem, cozinham e comem juntos. Com as mãos ocupadas amassando jenipapo, preparando a tinta preta tradicional que eles sempre usaram no corpo, adornada com colares de miçangas e conchas de caracol.


Os jovens não estão mais ligados nas tradições. Aquele lance de fazer tinturas e joias, que antes passava de geração em geração, foi perdendo força. "Eles ficaram preguiçosos por causa da internet. Estão aprendendo os costumes dos brancos", diz Tsainama.


Em seguida ela clama:


-  "Mas, por favor, não tirem nossa internet."



O FIM DO FOSSO DIGITAL


Agora, imagina o cenário: quase 5 bilhões de pessoas estavam conectadas à internet em 2020. E esse número só cresce. Segundo a agência de marketing We Are Social, 1 milhão de novos usuários entram online todos os dias. A previsão é que, em 2030, a gente tenha mais de 8 bilhões de pessoas navegando na web, o que representaria 90% da população mundial. Ou seja, o planeta inteiro vai estar praticamente conectado em uma década.


E o problema não é mais a cobertura de rede. Hoje, quase todo mundo já tem acesso a redes móveis. Quer um exemplo? Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo, investiu pesado e já tem mais de 350 mil km de fibra óptica, tanto terrestre quanto submarina, pra conectar as 17 mil ilhas do arquipélago, segundo Jhonny Plate, ministro das Comunicações e Tecnologia da Informação.


O verdadeiro desafio agora é outro: o custo do acesso e a simplicidade dos sistemas. A maioria dos novos usuários de internet vai vir de mercados emergentes, onde o celular é a principal (e às vezes única) forma de acessar a rede. Esses lugares são mobile-first e mobile-only, ou seja, o celular é rei. Celulares mais baratos, sistemas operacionais leves, planos de dados acessíveis e Wi-Fi grátis são as chaves pra destravar o acesso pro famoso "Próximo Bilhão de Usuários".


Mas não para por aí: além de conectar pessoas, a internet está conectando máquinas e aparelhos. Isso é o que chamam de Internet das Coisas (IoT). E não, não é só um monte de buzzwords. A IoT já está transformando tanto o mundo doméstico quanto o industrial. Quer ver?


Ela pode ser utilizada para propósitos de monitoramento, como medição inteligente e rastreamento de ativos, tanto no contexto doméstico quanto no industrial. E o mais louco?

Tudo isso pode ser gerido remotamente, sem precisar de operadores humanos. Na real, a IoT vai ser a espinha dorsal da automação, enquanto a IA se torna o cérebro que vai controlar tudo.


Com a expansão das redes móveis e dos satélites Starlink, do Elon Musk, o tal do fosso digital tá começando a desaparecer em lugares remotos. Sabe aquelas comunidades que viviam completamente fora do radar? Agora, tão conectadas com o mundo.


Mas calma, a parada vai muito além de só ter internet. Não adianta nada se conectar se a galera não tiver acesso de qualidade e habilidades pra usar a tecnologia de forma realmente produtiva.


No final das contas, o fosso digital não é só sobre "ter ou não ter" internet. O real desafio é: como você usa a internet pra transformar sua vida. Seja pra acessar educação, participar da economia digital ou pra exercer sua cidadania. Conectar é só o primeiro passo. O que vai definir mesmo é o que você faz depois de estar online.


"Fechar o fosso digital é essencial para garantir que todos os cidadãos, independentemente de onde vivem ou de suas condições socioeconômicas, possam participar plenamente da sociedade digital."


  • Fonte: UNESCO, Universal Access to Information and the Digital Divide (2021).







 
 
 

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